Nutricionista USP doutora/mestre em Esporte e Alimentos, especialista em transtornos e comportamento. Autora de “Por que não posso emagrecer?” e “A Dieta Ideal”. Memórias, experiências, preferências/aversões, hábitos alimentares. Biopsicosocioambiental: nariz, receptores olfativos, amamentação, gestantes. Soluções de sabor, neurais: estudos neuroimagem, diferentes áreas cerebrais, exposição repetida, conexões. Alimentos: sal, açúcar, gordura.
Quando o cheiro de um bolo recém-saído do forno invade o ar, as memórias alimentares nos levam de volta à cozinha da nossa avó. É impressionante como um simples aroma pode nos transportar no tempo e nos fazer reviver momentos tão vívidos. As memórias alimentares estão intimamente ligadas às nossas experiências e emoções, criando conexões poderosas com o passado.
Os alimentos têm o incrível poder de despertar memórias do passado, como o gosto de uma esfirra que nos transporta instantaneamente para os recreios da escola. Essas lembranças sensoriais estão gravadas em nossa mente de forma única e especial. A relação entre alimentos e memórias é tão forte que pode nos emocionar e nos conectar com o nosso passado de uma maneira única e marcante.
Memórias alimentares influenciam nossas escolhas
As memórias alimentares têm um poder ímpar em nossas vidas, capazes de resgatar sensações vivenciadas no passado e moldar nossas preferências atuais por alimentos. Elas nos conectam diretamente com momentos especiais, como cozinhar com a avó ou saborear um prato típico de infância. Essas lembranças, enraizadas em experiências passadas, continuam a influenciar nossas escolhas mesmo após muitos anos.
Genética e o nariz desempenham um papel crucial nesse processo. A percepção dos aromas dos alimentos é mediada por receptores olfativos, que variam de pessoa para pessoa. Enquanto alguns apreciam o coentro, outros o detestam devido a diferenças genéticas em seus receptores olfativos. Essa diversidade de preferências é um reflexo da complexidade do nosso sistema sensorial.
A exposição precoce a sabores específicos durante a gestação e a amamentação pode moldar as preferências alimentares dos bebês. Estudos demonstram que a frequência da ingestão de certos sabores pela mãe pode influenciar a aceitação desses sabores pelos recém-nascidos. Da mesma forma, o leite materno reflete os hábitos alimentares da mãe, impactando as escolhas futuras do bebê.
A combinação de sal, açúcar e gordura é considerada uma preferência universal e é frequentemente explorada pela indústria de alimentos ultraprocessados. Esses componentes têm o poder de ativar áreas cerebrais relacionadas ao prazer e à recompensa, estimulando o consumo excessivo e a formação de hábitos alimentares prejudiciais.
Nossa história de vida também desempenha um papel fundamental na formação de nossas memórias alimentares. Experiências positivas associadas à comida na infância, como prêmios ou momentos de afeto, tendem a criar preferências duradouras por certos alimentos. A exposição repetida a determinados sabores fortalece as conexões neurais relacionadas à memória alimentar, tornando-as mais fortes e persistentes.
Além disso, a relação familiar com a comida exerce uma influência significativa em nossos hábitos alimentares. O modo como nossos familiares se alimentam modela nosso comportamento em relação à comida, estabelecendo padrões que podem perdurar por toda a vida. As experiências compartilhadas em torno da mesa contribuem para a construção de memórias afetivas ligadas à alimentação.
Em suma, as memórias alimentares são um reflexo complexo da interação entre diversos fatores, que vão desde aspectos genéticos e sensoriais até experiências emocionais e sociais. Compreender como essas memórias são formadas e como influenciam nossas escolhas é essencial para promover uma relação saudável e equilibrada com os alimentos em nosso cotidiano.
Fonte: @ Estadão
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