Evento promoveu debate sobre desafios socioambientais na comunidade quilombola Mesquita, incluindo produção e uso de agrotóxicos, em uníssono com os pedidos dos quilombolas.
Cidade Ocidental (GO), 20/07/2024 – Epídia Pereira Braga, residente do Quilombo Mesquita, exibe com orgulho sua titulação de agricultora. Aos 74 anos, Elpídia Pereira contempla a mangueira que plantou há cinco décadas e se recorda do passado com nostalgia. ‘Naquela época, as chuvas eram mais frequentes’, relembra ela, enquanto aprecia a árvore que testemunhou tantas mudanças ao longo dos anos.
Com sua titulação em mãos, Elpídia Pereira é um exemplo de resistência e dedicação à terra. Além disso, a titularização de suas terras é um marco em sua trajetória, garantindo seu direito de propriedade e o legado que pretende deixar para as gerações futuras. O registro de sua história e sua ligação com a natureza são testemunhos vivos de uma vida dedicada à agricultura e à preservação ambiental.
Titulação da Terra na Comunidade Quilombola Mesquita
Na comunidade quilombola Mesquita, onde a vida de Elpídia se desenrolou, localizada em Cidade Ocidental (GO), surgem reclamações dos agricultores devido ao uso de agrotóxicos pelos donos de terras próximas. Há um pedido uníssono pela titulação da terra. A mangueira plantada por Elpídia há tempos atrás foi o cenário de uma roda de conversa promovida pelo Festival Latinidades, na edição goiana, para discutir os desafios socioambientais que afetam a produção dos quilombolas.
A comunidade Mesquita, situada a cerca de 50 quilômetros de Brasília, possui uma história de 278 anos, abrigando atualmente mais de 700 famílias e uma população com mais de três mil habitantes. A roda de conversa do festival, em sua 17ª edição, abordou o tema ‘Guardiões do amanhã: diálogos sobre produção cultural, racismo ambiental e justiça climática’.
Elpídia sente saudades de tempos passados, quando as chuvas eram mais frequentes, possibilitando o cultivo de arroz, que requer um regime de chuvas prolongado. ‘Antes, só precisávamos comprar sal. O resto, a terra fornecia’, relembra. Mesmo diante da aridez das estiagens na região Centro-Oeste do Brasil, o clima ameno permanece devido à preservação da mata local.
Os moradores da comunidade também buscam se proteger da entrada de alimentos como refrigerantes. ‘Procuramos ensinar os mais jovens a consumir sucos das frutas do cerrado’, afirma Sandra Pereira, líder comunitária em Goiás, de 56 anos de idade.
Segundo Sandra, a titulação das terras, totalizando 4,2 mil hectares, é crucial para garantir segurança aos residentes, uma vez que grandes proprietários frequentemente invadem o território quilombola. Cerca de 40% do território é destinado ao cultivo e subsistência, enquanto o restante é preservado como Cerrado.
Em 20 de julho de 2024, em Cidade Ocidental (GO), Sandra Pereira Braga, liderança do Quilombo Mesquita, exibe a produção de hortaliças em meio ao cerrado preservado. A liderança relembra que a terra foi reconhecida há 18 anos, mas ainda não foi titulada. ‘Espero que ainda este ano a titulação ocorra. Queremos que nosso modo de vida seja respeitado e protegido’, destaca.
Sandra relata ter recebido ameaças de violência devido à sua luta. Ela menciona a morte de Mãe Bernadete, da comunidade de Pitanga dos Palmares, na Bahia, ocorrida há um ano. ‘Ela esteve aqui duas vezes. Ela só queria garantir os direitos e morreu’, lamenta. Sandra ressalta a importância da proteção às lideranças de povos originários em todo o país, que enfrentam ameaças constantes.
Os agricultores da comunidade trabalham com viveiros de plantas e respeitam os saberes ancestrais da agroecologia. Seus produtos são reconhecidos localmente e além das fronteiras. ‘A mandioca é um dos mais procurados, pois organizamos áreas específicas para o plantio e colheita, e também por sua resistência às estiagens. Este é nosso berço sagrado’, afirma Sandra. Seu irmão, João Paulo, descasca a mandioca, destacando a importância deste produto para a comunidade.
Fonte: @ Agencia Brasil
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