Pesquisadora alerta para situação crítica em três biomas devido ao uso da terra e estilo de vida atual, com presença de alarmes no sistema de Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais.
No Brasil, a maioria dos incêndios que assolam o país é causada por ações humanas, e não por fenômenos naturais. De acordo com a doutora em geociências Renata Libonati, coordenadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apenas uma pequena parcela dos incêndios é iniciada por causas naturais. Isso significa que a maioria dos incêndios é resultado de ações humanas, como queimadas controladas que fogem do controle ou incêndios criminosos.
A situação é alarmante, pois os incêndios podem causar danos irreparáveis ao meio ambiente e à biodiversidade. Além disso, as chamas podem se espalhar rapidamente, consumindo grandes áreas de floresta e causando prejuízos econômicos e sociais. De acordo com a doutora Renata Libonati, cerca de 1% dos incêndios no Brasil é originado por raio, o que destaca a importância de se combater as causas humanas desses incêndios. É fundamental que sejam tomadas medidas para prevenir e combater os incêndios, protegendo assim o meio ambiente e a população.
Incêndios: uma ameaça constante ao meio ambiente
A pesquisadora Renata Libonati, responsável pelo sistema Alarmes, um monitoramento diário por meio de imagens de satélite e emissão de alertas sobre presença de fogo na vegetação, afirma que ‘todos os outros 99% dos incêndios são de ação humana’. Ela destaca que, mesmo que não tenham sido intencionais, esses incêndios são de alguma forma criminosos.
Com base em dados que ficam disponíveis a cada 24 horas, a professora constata que a situação é muito crítica nos três biomas analisados, sendo a pior já registrada na Amazônia. Em relação ao Cerrado e o Pantanal, ela ressalta que a presença das chamas está ‘muito próxima do máximo histórico’.
Uso da terra e estilo de vida
Renata Libonati associa o fogo que consome vegetação em diversas regiões brasileiras a atividades econômicas. ‘A ocorrência dos incêndios no Brasil está intimamente relacionada ao uso da terra’, afirma. Com o olhar de quem acompanha cada vez mais eventos climáticos extremos, a pesquisadora percebe um ultimato: ‘Nosso estilo de vida atual é incompatível com o bem-estar da nossa sociedade no futuro’.
Acompanhe os principais trechos da entrevista:
Agência Brasil: A partir do monitoramento realizado pelo sistema Alarmes, é possível traçar um retrato de como está a situação no país?
Renata Libonati: O sistema Alarmes monitora atualmente os três principais biomas do Brasil: Amazônia, Cerrado e o Pantanal. Principais no sentido dos que mais queimam. No Pantanal, do início do ano até 18 de setembro, já teve cerca de 12,8% da sua área queimada. Fazendo um comparativo com 2020, o pior ano já registrado, 2020 queimou no ano todo cerca de 30% do bioma. A média anual que o Pantanal queima é em torno de 8%. Então, 2020 foi muito acima e 2024 também ultrapassou a média de porcentagem diária atingida.
Isso representa cerca de 1,9 milhão de hectares queimados em 2024 [para efeito de comparação, o estado do Sergipe tem quase 2,2 milhão de hectares]. Esse acumulado está abaixo do que queimou em 2020 no mesmo período, mas até o início de setembro, o acumulado era maior que o mesmo período de 2020.
A Amazônia já teve cerca de 10 milhões de hectares queimados [o que equivale a mais que o estado de Santa Catarina]. Como a Amazônia é muito grande, isso representa em torno de 2,5% da sua área queimada. A situação é muito crítica. Esse é o pior ano já registrado desde que a gente tem medição aqui no nosso sistema, em 2012.
O Cerrado já queimou cerca de 11 milhões de hectares, o que corresponde a quase 6% da sua área. Esse valor está ligeiramente abaixo do ano que mais queimou, que foi em 2012. De uma forma geral, a situação é muito crítica nos três biomas. A Amazônia no máximo histórico; e nos outros biomas, muito próxima do máximo histórico.
Incêndios criminosos
Agência Brasil: Com os dados coletados, notam-se indícios de ações criminosas e/ou coordenadas?
Renata Libonati: O monitoramento por satélite não permite fazer distinção de que tipo de ignição originou determinado incêndio. O que sabemos é que a maioria dos incêndios é causada por ações humanas, seja por queimadas, chamas ou fogo proposital. É importante lembrar que o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais é responsável por monitorar esses incêndios e alertar as autoridades competentes.
Fonte: @ Agencia Brasil
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