© 2023: Lava Jato, poder, desacertos, execução da pena, ilegalidades ocultas.
Recentemente, estive presente em uma conferência que abordou a década de existência da Lava Jato.
Naquele encontro, discutimos a importância da Operação Lava Jato e seus impactos na sociedade brasileira. Foi fascinante analisar como a Lava Jato influenciou o cenário político e econômico do país.
Reflexões sobre a Operação Lava Jato e seus desdobramentos
Advogados, juízes e professores se reuniram para discutir os excessos cometidos por um grupo de magistrados e procuradores na Operação Lava Jato, que, com o respaldo dos Tribunais, da mídia e da sociedade civil, ultrapassaram limites legais em sua luta contra a corrupção e na busca por ocupar espaços de poder. Durante o debate, foram destacados e reiterados os desacertos da operação, tais como prisões preventivas sem justificativa, uso de conduções coercitivas, vazamento ilegal de informações para a imprensa, execução de penas sem condenações definitivas, e outras ilegalidades ocultas.
Ao final do evento, chegou-se à conclusão de que aquela época já passou, reformas legais e institucionais foram implementadas para dificultar abusos de poder, e os Tribunais finalmente reconheceram as irregularidades, encerrando assim os excessos. Parecia que os abusos faziam parte de um passado distante, ainda que possivelmente ameaçador, mas que não assombrava mais as pessoas com o medo de serem surpreendidas a qualquer momento.
No entanto, todas essas reflexões sobre a Operação Lava Jato são pertinentes, exceto pela conclusão otimista. Enquanto os alvos e advogados envolvidos podem respirar aliviados, para aqueles que lidam com acusados ou suspeitos das camadas mais vulneráveis da sociedade, as ilegalidades não são algo do passado, mas persistem no presente de forma angustiante.
Buscas e apreensões em residências sem mandado, prisões injustificadas, revistas humilhantes, condenações baseadas unicamente no testemunho de policiais e execuções de penas provisórias são parte da realidade daqueles que não fazem parte do grupo privilegiado afetado pela Operação Lava Jato. Não se observa nesse contexto a moderação dos Tribunais e a contenção dos abusos por parte das autoridades, mas sim uma preocupação diária com a violência e a insegurança.
Alguns argumentam que o arbítrio é justificável diante da gravidade dos crimes, principalmente os ligados ao crime organizado, como tráfico de drogas e roubos, e que a mesma moderação não se aplica a delitos como corrupção. No entanto, a legalidade é um princípio que deve reger a atuação do Estado e de seus agentes, submetendo-os às leis estabelecidas por um processo democrático.
O respeito à lei é essencial para a civilidade de uma sociedade. Enquanto tolerarmos ilegalidades nos altos escalões e ignorarmos os abusos cometidos diariamente contra os mais vulneráveis, estaremos compactuando com um Estado de exceção que pode facilmente ressurgir e se fortalecer, aguardando aqueles que hoje aplaudem a arbitrariedade.
Fonte: @ CNN Brasil
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