Voluntário em hospital na Faixa de Gaza, Pascalou Andre visita Brasília e fala com o g1 sobre sua experiência com cirurgias e pacientes palestinos.
Em sua recente viagem ao Brasil, o cirurgião francês Pascalou Andre, de 60 anos, trouxe consigo lembranças de sua atuação como médico voluntário em Gaza. Durante sua estadia, ele compartilhou com o mundo sua experiência em um hospital europeu localizado no sul da Faixa de Gaza, na cidade de Khan Younes.
Além das imagens impactantes que registrou durante seu período como voluntário, Pascalou Andre também compartilhou algumas das experiências vividas que o marcaram profundamente. Sua passagem por Gaza certamente deixou uma marca duradoura em sua trajetória como médico e como ser humano.
.
Exaustão do médico voluntário em Gaza
Carga excessiva de trabalho dos agentes de saúde e condições precárias dos hospitais são destaques do relato. O cirurgião francês Pascalou Andre está em Brasília para visitar seu filho, que vive no Brasil há dois anos. Durante sua estadia, o médico compartilhou com o g1 imagens e relatos da experiência como voluntário em um hospital europeu localizado no sul da Faixa de Gaza, na cidade de Khan Younes, onde milhares de vítimas da guerra entre Hamas e Israel buscam ajuda.
‘Imagina 1,5 milhão de pessoas numa cidade com capacidade de receber 200 mil pessoas. Um hospital com capacidade de atender 300 pessoas em leito, mas que está recebendo 900 pessoas por dia. São 4 mil pessoas vivendo nos corredores, como é um hospital europeu ele é um pouco mais protegido’, conta o médico.
Na cidade, ele diz que não tem luz a noite, e que as pessoas correm atrás dos caminhões em busca de comida.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp. Andre trabalhou no hospital de 8 a 22 de fevereiro (saiba mais abaixo). Ele atuava como infectologista na França, mas há três anos decidiu se dedicar ao atendimento de emergência.
Em abril do ano passado, foi voluntário na Cisjordânia. Desde então, trabalha junto com o Ministério da Saúde da Palestina e a Cruz Vermelha Islâmica. Em 7 de outubro de 2023, assim que o conflito entre Israel e o Hamas teve início, Pascalou Andre se prontificou a ajudar na Faixa de Gaza. No entanto, segundo ele, o governo de Israel impediu a entrada na região através do Egito. Foi só em 6 de fevereiro que ele obteve a autorização para se dirigir ao local pela ‘PaMad‘(Palestina Médicos), instituição que organiza uma rotação de médicos voluntários a cada 15 dias na região.
Desafios enfrentados pelo cirurgião francês em Gaza
Pascalou conta que ficou preso por uma noite e um dia no Canal de Suez antes de chegar em Gaza. Assim que entrou na cidade de Rafah, a primeira impressão foi de desespero. No hospital, o bloco de cirurgias tinha capacidade de receber 40 pessoas, mas que cerca de 110 pessoas davam entrada diariamente para fazer cirurgias. Um dos momentos recordados pelo médico foi quando uma senhora o questionou aos gritos no hospital:
‘Por que você está cuidando do meu neto que morreu se você é o culpado por isso?’
Segundo o francês, o barulho de drones e bombas é incessante. De 25 hospitais na região, o cirurgião avalia que apenas seis ainda estejam em funcionamento.
A carga de trabalho para os profissionais de saúde é extremamente excessiva. Pascalou diz que seus colegas palestinos tinham apenas uma muda de roupa, porque a maioria precisou fugir de suas casas.
‘Eles perderam de 10 kg a 15 kg [de peso], ninguém paga o salário deles há 3 ou 4 meses.
Mas além disso, eles são muito acolhedores e dão o melhor deles para os pacientes’, conta Pascalou Andre.
Resposta internacional à atuação do médico voluntário em Gaza
Questionado sobre o que foi mais perturbador, Pascalou sorri e responde ‘tudo’. Mas destaca a influência dos demais países no conflito e lamenta pela ‘hipocrisia e o silêncio da comunidade internacional, principalmente da União Europeia e a Estadunidense’, diz o médico voluntário. Andre declara que a entrada de comida, água, medicamentos e até a eletricidade estão sendo controladas por Israel. Um ponto que o surpreendeu, no entanto, foi a resposta dos palestinos com o discurso de não violência. ‘Mesmo com tudo isso, não tem ódio’. Para ele, o apoio do Brasil aos Palestinos é muito positivo. ‘Parabéns para o Brasil’, afirma. Pascalou Andre diz que pretendia retornar para Gaza como voluntário em março, mas que, a pedido de seus colegas, decidiu conscientizar outras pessoas, países e políticos sobre a situação dos palestinos. Andre retorna para a França nesta quarta-feira (03), onde pretende continuar compartilhando o relato sobre o que viveu naquelas duas semanas.
LEIA TAMBÉM:
- ‘ACONTECE EM GUERRAS’, diz Netanyahu sobre ataque que matou 7 de ONG de chef condecorado por Obama
- SANDRA COHEN: Pressionado por partidários e opositores, Netanyahu endurece o discurso
Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
Comentários sobre este artigo