Desigualdades sociais e infraestrutura de saúde agravam taxas de mortalidade por doenças crônicas no Brasil, em meio à transição demográfica e mudança no perfil de saúde da população.
O Brasil está passando por uma transformação significativa no perfil das principais causas de mortalidade, de acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira, 4. Essa mudança reflete uma tendência preocupante que afeta a saúde pública do país.
Os dados revelam que as principais causas de mortalidade estão se deslocando para doenças crônicas e degenerativas, o que pode levar a um aumento no número de óbitos. Além disso, a morte prematura de jovens e adultos em idade produtiva é um problema grave que precisa ser abordado. A mortalidade infantil também é uma questão que exige atenção especial, pois o falecimento de crianças é um indicador importante da qualidade dos serviços de saúde. É fundamental que sejam tomadas medidas para reduzir essas taxas e melhorar a saúde da população.
Aumento da Mortalidade no Brasil
Entre 2019 e 2023, o Brasil registrou um aumento de 7,7% nas mortes por câncer, tornando-se uma das principais causas de óbito no país, ao lado de doenças do aparelho circulatório, causas externas (como violência e acidentes) e infecções respiratórias. Com 15,8% da população brasileira acima de 60 anos, o envelhecimento é um dos principais motores do aumento de doenças crônicas, como câncer e problemas cardíacos. A expectativa de vida ao nascer chegou a 76,4 anos em 2023, enquanto a taxa de fecundidade total caiu para menos de dois filhos por mulher. Esse cenário reflete a transição demográfica e epidemiológica do país, onde doenças não transmissíveis agora superam, em número de óbitos, condições infecciosas que antes dominavam o panorama.
A mudança no perfil da população brasileira é um dos principais fatores que contribuem para o aumento da mortalidade. O envelhecimento da população está se dando de forma muito mais rápida em comparação a outros países, destaca o analista socioeconômico do IBGE, Jefferson Mariano. Além disso, as neoplasias malignas tiveram crescimento em todas as faixas etárias, mas o impacto é mais evidente nos idosos.
Desigualdades Sociais e Acesso à Saúde
O impacto das causas externas, como violência e acidentes, expõe desigualdades marcantes na saúde brasileira. Entre homens pretos ou pardos, por exemplo, a taxa de mortalidade por causas externas até os 44 anos é 2,7 vezes maior que entre homens brancos. Já entre as mulheres, as disparidades se manifestam em doenças crônicas: mulheres brancas apresentam maior mortalidade por câncer entre 30 e 69 anos, enquanto doenças do coração são mais frequentes nas pretas e pardas. Episódios de violência policial e outras formas de agressão estrutural são indicadores do impacto das desigualdades sociais na mortalidade, já que atingem desproporcionalmente a população preta e parda.
A infraestrutura de saúde também apresenta desafios regionais e econômicos. Apesar do aumento de 30% no número de tomógrafos entre 2019 e 2023, segundo o IBGE, a distribuição desses equipamentos permanece desigual. Estados como o Acre e Roraima têm índices muito inferiores à média nacional, dificultando diagnósticos precoces de doenças como o câncer. Além disso, houve uma redução de 19,3% nos leitos hospitalares da rede privada.
Impacto das Infecções e da Pandemia de Covid-19
Doenças respiratórias, como gripe e pneumonia, continuam sendo causas frequentes de morte no Brasil, especialmente entre idosos e crianças. Entre 2019 e 2023, a covid-19 também deixou sua marca na mortalidade geral, causando um aumento expressivo de óbitos por doenças virais, que cresceram mais de 5.900% no período analisado. O relatório destaca que a pandemia não só sobrecarregou o sistema de saúde, mas também atrasou diagnósticos e tratamentos de outras doenças. Isso contribuiu para o aumento da mortalidade no país.
Fonte: @ Veja Abril
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