Fantasias extremas sobre dominar mulheres estão sendo normalizadas no mundo real, criando condições análogas a um clube de leitura que explora o corpo feminino submisso, apenas a ponta do iceberg.
No Brasil, a discussão sobre o estupro e suas consequências é um tema delicado e complexo. O caso de Gisèle Pelicot, que foi julgado recentemente na França, trouxe à tona a questão da normalização de fantasias extremas no mundo real. A violência sexual é um problema grave que afeta milhares de mulheres todos os anos. A forma como o caso foi tratado pela mídia e pela sociedade em geral é um reflexo da nossa cultura e da forma como lidamos com o estupro.
O julgamento de Gisèle Pelicot foi um exemplo de como o estupro pode ser minimizado e banalizado. A agressão sexual é um crime grave que deve ser tratado com seriedade. No entanto, em muitos casos, as vítimas são culpabilizadas e os agressores são protegidos. Isso é um reflexo da cultura do estupro que ainda prevalece em muitas sociedades. A violência sexual é um problema que afeta não apenas as vítimas, mas também a sociedade como um todo. É preciso que haja uma mudança cultural para que o estupro seja tratado com a seriedade que merece.
Um Caso de Estupro que Chocou o Mundo
Enquanto o julgamento se desenrolava em um tribunal de Avignon, eu me vi acompanhando cada detalhe terrível e discutindo com minhas amigas, filhas, colegas e até mesmo com mulheres do meu clube de leitura local, enquanto tentávamos processar o que havia acontecido. Por quase uma década, o marido de Gisèle Pelicot a drogou sem o seu consentimento e convidou homens que conheceu na internet para fazer sexo com a esposa ‘Bela Adormecida’ no quarto do casal, enquanto ele os filmava. Esses estranhos, com idades entre 22 e 70 anos, com profissões distintas como bombeiro, enfermeiro, jornalista, carcereiro e soldado, obedeceram às instruções de Dominique Pelicot, que buscavam um corpo feminino submisso para penetrar, e tranquilamente fizeram sexo com uma avó aposentada, cujo corpo fortemente sedado se assemelhava a uma boneca de pano.
Um Caso de Estupro que Revela a Violência contra as Mulheres
Havia 50 homens sendo julgados no tribunal, todos viviam em um raio de 50 km de Mazan, uma pequena cidade no sul da França onde os Pelicot moravam. Eles eram, aparentemente, como ‘qualquer outro homem’. Uma mulher na faixa dos 30 anos me disse: ‘Quando li sobre o caso pela primeira vez, não quis ficar perto de nenhum homem por pelo menos uma semana, nem sequer do meu noivo. Fiquei simplesmente horrorizada’. Outra, com quase 70 anos, da mesma geração de Gisèle Pelicot, não conseguia parar de pensar no que poderia estar passando pela cabeça dos homens, até mesmo de seu marido e filhos. ‘Será que isso é apenas a ponta do iceberg?’ Alguns dos homens que foram julgados no tribunal de Avignon Foto: Reuters / BBC News Brasil.
A Normalização da Violência contra as Mulheres
Como a escritora e terapeuta Stella Duffy, de 61 anos, escreveu no Instagram no dia em que o veredicto foi anunciado: ‘Espero e tento acreditar que #notallmen (‘não são todos os homens’), mas imagino que as esposas, namoradas, melhores amigas, filhas e mães do vilarejo de Gisèle Pelicot também pensavam assim. E agora elas pensam de modo diferente. Todas as mulheres com quem converso dizem que esse caso mudou a maneira como elas veem os homens. Espero que tenha mudado a maneira como os homens veem os homens também.’ Agora que o julgamento terminou, podemos olhar para além deste caso monstruoso e perguntar: de onde veio o comportamento insensível e violento desses homens? Será que eles não conseguiam ver que sexo sem consentimento é estupro? Mas há também uma questão mais ampla. O que o fato de tantos homens, em uma região relativamente pequena, compartilharem essa fantasia de dominação extrema sobre uma mulher diz sobre a natureza do desejo masculino?
A Internet e a Propagação da Violência contra as Mulheres
É difícil imaginar a dimensão dos estupros orquestrados e das agressões sexuais contra Gisèle Pelicot sem a internet. A plataforma na qual os homens se conectaram e compartilharam suas fantasias de dominação extrema sobre uma mulher é um exemplo claro de como a tecnologia pode ser usada para normalizar a violência contra as mulheres. A internet pode ser um espaço seguro para as mulheres, mas também pode ser um espaço onde a violência e o abuso são perpetuados. É importante que as mulheres sejam conscientes desses riscos e que tomem medidas para se proteger. Além disso, é fundamental que os homens sejam educados sobre a importância do consentimento e da respeito às mulheres. A violência contra as mulheres é um problema que afeta a todos, e é importante que trabalhemos juntos para erradicá-la.
Fonte: @ Nos
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