Ações judiciais alegam que o conteúdo online destruiu a saúde mental de pessoas, questionando a segurança na internet e o papel de empresas terceirizadas que gerenciam caixas de entrada.
Atenção: este relato contém detalhes que podem ser perturbadores para alguns leitores. A BBC teve acesso, nos últimos meses, a um universo sombrio e oculto, onde os moderadores desempenham um papel crucial na regulação do conteúdo online. Nesse mundo, é possível encontrar o que há de pior, mais tenebroso e mais perturbador na internet.
Os moderadores, responsáveis por analisar e remover conteúdo ilegal ou inapropriado, trabalham lado a lado com analisadores de conteúdo e funcionários de empresas terceirizadas. Juntos, eles enfrentam o desafio de proteger a segurança online e garantir que as plataformas digitais sejam um espaço seguro para todos. A pressão é constante e o trabalho é extenuante. A responsabilidade de proteger a internet é um desafio diário.
Os Moderadores: Os Guardiões da Segurança Online
O trabalho de um moderador de conteúdo é analisar e excluir conteúdo denunciado por outros usuários ou assinalado automaticamente pelas ferramentas da tecnologia. No entanto, apesar da grande quantidade de pesquisas e investimentos em soluções tecnológicas para ajudar neste processo, até o momento, a palavra final ainda fica, em grande parte, a cargo de moderadores humanos. Esses profissionais de segurança online são responsáveis por garantir que o conteúdo online seja seguro e apropriado para os usuários.
Os moderadores costumam ser funcionários de empresas terceirizadas, mas seu trabalho é analisar conteúdo postado diretamente nas grandes redes sociais, como o Instagram, o TikTok e o Facebook. Eles são os analisadores de conteúdo que trabalham atrás das cenas para garantir que o conteúdo online seja seguro e apropriado. No entanto, o trabalho de um moderador pode ser extremamente desafiador e estressante, pois eles são expostos a conteúdo traumático e perturbador todos os dias.
O Impacto no Bem-Estar dos Moderadores
Conversei com vários moderadores para a série da BBC Rádio 4 The Moderators, e suas histórias são angustiantes. Eles moram principalmente no leste africano e todos já deixaram seus cargos desde então. Suas histórias são um testemunho do impacto que o trabalho de um moderador pode ter no bem-estar e na saúde mental. ‘Eu assumi aquilo para mim. Deixei que minha saúde mental absorvesse o golpe para que os usuários comuns pudessem prosseguir com suas atividades na plataforma’, conta o ex-moderador Mojez, de Nairóbi, no Quênia.
Existem em andamento diversas ações judiciais alegando que o trabalho destruiu a saúde mental desses moderadores. Alguns dos antigos profissionais do leste africano se reuniram e formaram um sindicato para lutar por seus direitos e proteger sua saúde mental. ‘De fato, a única coisa que me impede de assistir a uma decapitação quando entro em uma plataforma de rede social é que há alguém sentado em um escritório, em algum lugar, assistindo àquele conteúdo para mim e analisando para que eu não precise ver’, conta Martha Dark, responsável pela organização ativista Foxglove, que apoia as ações judiciais.
A Responsabilidade das Empresas de Tecnologia
Em 2020, a Meta – na época, conhecida como Facebook – concordou em pagar um acordo de US$ 52 milhões (cerca de R$ 300 milhões) para moderadores que desenvolveram problemas de saúde mental devido a esse trabalho. O processo judicial foi aberto por uma antiga moderadora dos Estados Unidos chamada Selena Scola. Ela descreveu os moderadores como ‘guardiões de almas’, devido à quantidade de vídeos a que eles assistem, mostrando os momentos finais da vida das pessoas. As empresas de tecnologia têm a responsabilidade de proteger a saúde mental e o bem-estar de seus moderadores, e é importante que elas tomem medidas para garantir que esses profissionais de segurança online sejam tratados com dignidade e respeito.
Fonte: © G1 – Tecnologia
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