Putin, já no poder desde 2000, busca reeleição na eleição presidencial. Com candidatos fantoches e oposição controlada, seu sucesso é garantido.
Putin é o principal candidato na eleição presidencial da Rússia, que está sendo realizada ao longo deste final de semana. Os eleitores russos terão a oportunidade de escolher entre o atual presidente e outros três candidatos que, segundo a agência de notícias Associated Press, são considerados meros fantoches em apoio ao líder russo.
O atual líder, Vladimir Putin, enfrenta a votação popular com confiança, buscando mais um mandato presidencial na Rússia. Apesar das críticas e controvérsias, Putin mantém sua popularidade no país, o que o coloca como favorito na disputa eleitoral.
A reinvenção de Putin na eleição presidencial russa
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Sendo o maior país do mundo em área territorial e com uma população de 141 milhões de habitantes, a Rússia precisou adotar a votação em três dias para dar conta de regiões com 11 fusos horários diferentes. Aproximadamente 114 milhões de eleitores estão envolvidos nesse processo eleitoral.
É praticamente certo que ele será reconduzido à presidência pela quinta vez, de acordo com a mídia internacional. A permanência de Putin no poder por 24 anos o coloca como o presidente mais longevo da Rússia desde Josef Stalin, na época da União Soviética –Putin tem a chance de ultrapassar os quase 30 anos de Stalin no comando: o atual líder mudou a Constituição em 2020 para estender seu mandato até 2036 (leia mais abaixo).
O peso desse longo mandato e a supressão completa das vozes eficazes da oposição interna dão a Putin uma mão muito forte – e talvez irrestrita.
Com políticos de oposição presos, como aconteceu com Alexei Navalny, morreram em circunstâncias obscuras, como Boris Nemtsov, ou foram classificados como terroristas e deixaram o país, como Garry Kasparov. Putin impede que opositores reais disputem eleições contra ele –esta foi a realidade nas eleições recentes (leia mais abaixo).
A censura também atingiu os veículos de imprensa, incluindo o ‘Novaya Gazeta’, cujo fundador foi laureado com um Nobel da Paz.
A democracia simulada
As eleições russas não são genuínas: são apenas uma ‘fachada’, e não algo verdadeiro, realizadas por obrigação constitucional, segundo Lenina Pomeranz, professora da USP especializada em economia russa.
‘Putin controla as eleições para manter-se no poder’, afirma a especialista.
Nas eleições mais recentes, outros dois candidatos ‘reais’ se apresentaram: Boris Nadezhdin, de centro-direita, e Yekaterina Duntsova
‘Eles precisavam apresentar 100 mil candidaturas de apoio para se tornarem candidatos.
Mesmo tendo mais do que o necessário, a Comissão Eleitoral encontrou defeitos nos documentos de Yekaterina, levando-a a apoiar Boris Nadezhdin. Contudo, milhares de assinaturas apresentadas por Boris Nadezhdin foram invalidadas pela Comissão Central Eleitoral‘, relata Lenina.
A especialista destaca que, na Rússia, não se fala em democracia, mas sim em ‘democracia controlada’. Os candidatos que permanecem na disputa eleitoral —na prática, são aliados de Putin— incluem os seguintes:
- Nikolai Kharitonov: Deputado de 75 anos e candidato pelo Partido Comunista. Pesquisas indicam cerca de 4% das intenções de voto em seu favor.
- Leonid Slutsky: Deputado de um partido nacionalista, com aproximadamente 4% da preferência do eleitorado.
- Vladislav Davankov: vice-presidente da Câmara de Deputados, aproximadamente 5% das intenções de votos.
O conflito na Ucrânia e a estratégia de Putin
Antes mesmo do início da campanha eleitoral, o presidente russo enfatizou a guerra como uma batalha contra o Ocidente, destacando a sobrevivência da Rússia como questão central.
Em um discurso recente, Putin acusou os Estados Unidos e a Otan de tentarem transformar a Rússia em um estado submisso e decadente. Durante a campanha eleitoral, ele reiterou seu compromisso em alcançar seus objetivos na Ucrânia.
A justificativa para a invasão do país vizinho, a partir de fevereiro de 2022, se baseia nos seguintes argumentos:
- A necessidade de proteger os cidadãos de origem russa na região leste da Ucrânia.
- A percepção de que o governo ucraniano representava uma ameaça direta à Rússia ao buscar filiação à Otan.
Putin insiste que as forças russas estão em posição de vantagem após a contraofensiva ucraniana mal sucedida no ano passado, e garante que tanto a Ucrânia quanto os países ocidentais acabarão por aceitar um acordo nos termos estabelecidos por ele.
O presidente russo também elogia as tropas envolvidas na Ucrânia, prometendo transformá-las na nova elite do país. A mídia estatal divulga apenas os êxitos militares e os russos comuns têm acesso limitado às informações sobre os custos humanos do conflito.
Lenina, professora da USP, ressalta que os russos não são a favor da guerra e que não há um apoio entusiasmado à invasão da Ucrânia. No entanto, a história russa é marcada por conflitos, o que pode explicar a relativa aceitação da situação atual.
Impacto econômico da situação política russa
Quando a Rússia intensificou as ações na Ucrânia, diversos países ocidentais impuseram sanções e cortaram laços econômicos com os russos.
No entanto, as indústrias militares tornaram-se um pilar do crescimento econômico. Os pagamentos para os indivíduos envolvidos diretamente ou indiretamente no conflito impulsionaram a demanda interna. Além disso, a Rússia conseguiu manter suas exportações de petróleo para alguns dos principais compradores. As projeções indicam um crescimento econômico de 2,6% este ano, de acordo com o FMI.
Apesar de uma inflação prevista acima de 7%, o desemprego se mantém em patamares baixos. Durante sua campanha, Putin prometeu subsídios do governo para famílias jovens, especialmente aquelas com filhos, com o objetivo de estimular o setor imobiliário. Ele também se comprometeu a investir em áreas como saúde, educação, ciência, cultura, esportes e políticas de combate à pobreza.
Novos ventos na política russa
Alexei Navalny representava a principal voz de oposição a Putin na Rússia e era conhecido por suas críticas públicas. Ao cumprir uma pena de 19 anos, condenado por terrorismo, ele faleceu em uma prisão na região ártica.
Outros líderes opositores enfrentaram penas severas, comparáveis às aplicadas durante o regime de Stálin. Desde que assumiu a presidência, Putin vem restringindo ainda mais a participação política na Rússia, e a invasão da Ucrânia agravou essa repressão.
Pouco tempo após o início da intervenção ucraniana, uma lei foi aprovada tornando crime qualquer crítica pública ao conflito. A polícia passou a reprimir protestos não autorizados de forma mais intensa, resultando em um aumento significativo nas prisões e condenações.
No entanto, Lenina destaca uma mudança sutil: ‘Nunca antes um opositor recebeu um apoio tão expressivo quanto no velório de Alexei Navalny. Filas extensas se formaram para homenagear o líder falecido. Isso é significativo, pois demonstra uma potencial mudança na percepção pública e no comportamento das pessoas em relação ao governo’.
A longa trajetória de Putin no poder
Putin assumiu o cargo de forma interina após a renúncia de Boris Yeltsin em 31 de dezembro de 1999. Ele foi eleito pela primeira vez em maio de 2000 e cumpriu dois mandatos consecutivos. Em 2008, Dimitri Medvedev, aliado político, ocupou a presidência, mas Putin permaneceu no poder como primeiro-ministro.
Em 2012, Putin retornou ao cargo de presidente e foi reeleito em 2018 para um mandato até 2024. Embora a Constituição originalmente limitasse o número de mandatos presidenciais, Putin conseguiu alterá-la, possibilitando sua permanência no cargo até 2036. Durante sua gestão, os EUA tiveram os seguintes presidentes: Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden. Para efeito de comparação, no mesmo período, Putin esteve no poder enquanto os EUA passaram por sucessivas trocas de liderança.
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Fonte: © G1 – Globo Mundo
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