Influenciadores mirins atraem crianças e adolescentes para um suposto trabalho rentável de vendas de cursos na Kiwify e Cakto, levantando suspeitas de trabalho infantil e exploração de imagem através do Marketing de afiliados e Tráfego Orgânico.
É comum ver adolescentes exibindo nas redes sociais relatos de uma vida de luxo, supostamente alcançada através de trabalho infantil na internet. Em vídeos que compõem a maior parte do conteúdo de seus perfis, eles afirmam estar ganhando milhares de reais por mês com um trabalho infantil que exige apenas algumas horas de dedicação diária.
No entanto, é importante questionar a veracidade desses relatos, pois muitos desses jovens podem estar se engajando em atividades que não são de fato emprego legítimo, mas sim uma forma de exploração. Além disso, é fundamental lembrar que o trabalho infantil é uma violação dos direitos da criança e do adolescente, e pode ter consequências negativas para o seu desenvolvimento físico, emocional e psicológico. A proteção dos direitos da infância é fundamental para garantir um futuro saudável e produtivo. É preciso estar atento às formas de exploração e garantir que os jovens tenham acesso a oportunidades de ocupação e atividade que sejam seguras e legítimas.
Trabalho Infantil: Uma Realidade Preocupante
Segundo especialistas, a renda alta apresentada por alguns adolescentes nas redes sociais pode ser fruto de participação em esquemas de vendas de cursos que prometem ensinar a ganhar dinheiro fácil, hospedados nas plataformas Kiwify e Cakto. Esses cursos são frequentemente divulgados por adolescentes que se apresentam como ‘influencers’ e afirmam ganhar altas cifras de dinheiro com esses esquemas.
A pedido do g1, advogados especializados em direito da criança e do adolescente analisaram esses vídeos e concluíram que esses adolescentes podem estar submetidos a trabalho infantil on-line. Frases como ‘Eu já ganho mais que 5 médicos no mês’ e ‘Não me garanto em muita coisa, mas coloca um celular na minha mão pra ver se eu não faço R$ 50 mil no mês’ são ditas por adolescentes em vídeos publicados em contas com milhares de seguidores no Instagram e no TikTok.
O g1 encontrou ao menos 33 perfis com esse tipo de conteúdo nas duas redes e monitorou essas contas nos últimos três meses. Foram encontradas contas de pessoas que vivem em São Paulo, no Paraná e no Pará. O conteúdo delas se resume a postagens que minimizam a importância do estudo e onde os ‘influencers mirins’ vendem a ideia de um trabalho fácil, mostram maços de dinheiro, citam altas cifras de faturamento na bio, mas não revelam a fonte da suposta riqueza.
Eles pedem que os interessados em saber a ‘receita’ do sucesso mandem uma DM (mensagem privada) ou acessem um link. Ali é revelado que o caminho para ‘ter’ uma vida como a deles começa por comprar um curso hospedado nas plataformas de marketing de afiliados Kiwify e Cakto, amplamente divulgadas pelos adolescentes.
Marketing de Afiliados e Trabalho Infantil
O marketing de afiliados é uma estratégia de vendas em que uma empresa ou pessoa cria e disponibiliza seu curso ou produto em plataformas dedicadas para isso. Outras pessoas, então, divulgam esses conteúdos com links exclusivos e ganham uma porcentagem em cima da venda delas. No entanto, quando se trata de adolescentes, essa prática pode ser considerada trabalho infantil on-line.
Os cursos, que prometem ensinar a ganhar dinheiro com a participação em vendas desses mesmos cursos, têm nomes chamativos como ‘O Tesouro do Tráfego Orgânico’ e ‘Acelerador de resultados’. Eles são ministrados por outras pessoas que não os influencers. Por exemplo, no curso adquirido pelo g1, o irmão de uma menina que ostenta nas redes é quem dá as aulas.
Os conteúdos custam entre R$ 10 e R$ 200 — o que causa estranhamento diante do quanto esses influencers dizem faturar. A pedido do g1, advogados especializados em direito da criança e do adolescente analisaram as postagens e disseram que podem ser casos de trabalho infantil on-line.
Consequências do Trabalho Infantil On-line
Os adolescentes podem estar sendo usados por indivíduos mal-intencionados para praticar fraude (estelionato), avalia Kelli Angelini, advogada especialista em educação digital e autora do livro ‘Segredos da internet que crianças e adolescentes ainda são sabem’. A legislação brasileira define o crime de estelionato (Art. 171) como a tentativa de ‘obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento’.
Neste caso, os menores podem estar sendo explorados para promover esses cursos e ganhar dinheiro para outras pessoas, sem ter consciência das consequências legais e financeiras de suas ações. É importante que os pais e responsáveis estejam atentos a essas práticas e tomem medidas para proteger os adolescentes do trabalho infantil on-line.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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